Ensaio sobre a cegueira

Qgnianos, vamos analisar a última obra da lista de leituras obrigatórias da Uerj?!  Mas… a nossa última análise será diferente. Será diferente porque vamos conversar sobre o filme bem-sucedido “Ensaio sobre a cegueira”, de Fernando Meirelles.

José Saramago vetou várias tentativas de adaptação de sua obra Ensaio Sobre a Cegueira, alegando que “o cinema destrói a imaginação”. Saramago não deixa de ter razão: ao vermos uma adaptação de qualquer obra para as telas do cinema é inevitável que as imagens criadas a partir da leitura do texto deixem de existir. Na verdade, elas não deixam de existir, mas são substituídas pela “realidade” filmada.

Por outro ponto de vista, é tentador ver o choque de criações, de visões, entre dois tipos de criadores, aquele que conta histórias visuais e aquele que conta histórias textuais. Esse encontro não decepciona!!! 

A trama narra a inexplicável epidemia de cegueira que atinge uma cidade. Chamada de “cegueira branca”, já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa, a doença surge inicialmente em um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar, as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação, a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico, que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.

O livro já começa duro e assustador. No segundo parágrafo deparamo-nos com o grito de um personagem: “Estou cego”. E a forma como Saramago escreve, com poucos pontos, muitas vírgulas e discurso corrente, faz com que os acontecimentos passem pela mente do leitor com uma velocidade incrível: vão-se cegando vários personagens sem que possamos dar uma pausa para respirar. E quando finalmente resolvemos parar, percebemos que o autor não deu nome à cidade, não datou os acontecimentos e manteve seus personagens anônimos, conhecidos apenas como “a mulher do médico”, “o homem da venda preta”, “a rapariga dos óculos escuros” ou “o cão das lágrimas”. Deixando este relato tão aberto à imaginação do leitor, é impossível não temermos uma verdadeira epidemia, imaginarmos como agiriam as autoridades em uma situação como essa, como o medo faria vir à tona os instintos mais escondidos dos homens.

Em Ensaio sobre a cegueira, Saramago opta pelo anonimato das personagens, como se o objetivo fosse universalizar a experiência, envolvendo todas as pessoas, todos os nomes. Dessa forma, somos levados para o universo ficcional e experimentamos a cada página a dolorosa trajetória das personagens do romance.

 

 

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