Panteão da França (Panthéon)

Panteão da França (Panthéon), Paris, França

    O Perambulando com o QG ainda irá mostrar o Panteão de Atenas, o Panteão de Roma, mas agora é a vez do Panteão da França, que fica em Paris.

    O que significa Panteão? Na antiguidade, como na Roma e na Grécia antiga eram templosPanteão 5 dedicados ao culto dos deuses. Porém, o Panteão da França de 1791 é um monumento para receber os restos mortais dos heróis ou cidadãos mais ilustres da nação francesa e serem objetos de culto nacional. Se na antiguidade eram deuses, na modernidade são os heróis e importantes cidadãos nacionais a serem cultuados nessa ideia moderna de nação.

    O espaço da praça do Panthéon foi inicialmente ocupado por uma basílica fundada no ano de 507, pelo rei Clóvis, e dedicada a Santa Genoveva – padroeira de Paris e da monarquia francesa. Essa primeira construção em madeira foi substituída por outros edifícios. E antes de se tornar um Panteão, o prédio era a igreja de Sainte-Geneviève (Santa Genoveva), construída no estilo neoclássico em 1744 a mando do rei Luís XV. Em 1791, o monumento torna-se o Panthéon, são retirados os símbolos de culto à Santa Genoveva, à Virgem Maria, e a Jesus Cristo, em substituição a Assembleia revolucionária destina o espaço aos restos mortais dos grandes homens da pátria francesa a serem cultuados pelo povo.

Como isso aconteceu?

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Homenagem a Denis Diderot (1713-1784), filósofo e escritor francês, editor da Enciclopédia. Personagem central no Iluminismo francês do século XVIII.

    No dia 4 de abril de 1791, a Assembleia Nacional francesa simplesmente institui o culto oficial dos grandes homens. Foi assim: um congresso revolucionário (a Assembleia) manda que o edifício se tornasse lugar de culto, não mais a santos e a Deus, mas aos grandes homens da nação, líderes políticos, generais, escritores, filósofos e cientistas.

E qual a importância disso para o ENEM?

    Elenquei pelo menos 5 questões essenciais: (i) sobre a laicização do mundo moderno; (ii) a formação de símbolos nacionais; (iii) a continuidade dos movimentos renascentistas e iluministas; (iv) o Panteão como um novo lugar simbólico de encantamento do povo; e, (v) o Panteão hoje, e a valorização da pluralidade coma democracia.

  • É importante perceber como a Revolução francesa de 1789 promoveu uma quebra com valores tradicionais, tentando substituí-los por outros. Cultuar homens da pátria ao invés de santos da Igreja significava mudar a cabeça das pessoas, o desejo era o de tornar exemplares os homens que viveram para a nação, e não para a religião. O Panteão simboliza de maneira muito clara um movimento da modernidade que preconiza a saída da religião como estruturadora da vida social.
  • E mais, esse culto aos grandes homens da pátria, que modernamente tem início na França revolucionária, espalha-se pelo mundo. No Brasil, as estátuas e monumentos erigidos para personalidades públicas também tomam um pouco de empréstimo essa noção de culto “aos grandes homens”, aos heróis nacionais: como a estátua de Dom Pedro I na praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.
  • E qual foi a inspiração dos revolucionários para o Panteão? O modo como se cultuavam os deuses na antiguidade. Daí porque o Panteão recupera a tradição antiga dos panteões de Atenas e Roma. Vale lembrar que a Renascença e o Iluminismo foram movimentos artísticos e filosóficos que contribuíram para essa vontade de ruptura com a simbologia cristã, pois ao invés de estátuas de santos, de Jesus na cruz, se construiu túmulos e estátuas aos grandes homens patrióticos ou que contribuíram de algum modo para o movimento revolucionário de 1789.
  • Pode-se mencionar ainda um quarto aspecto: o Panteão representava um novo modo de encantamento. Sim. O Panteão tem essa função de encantar as pessoas a partir de outro conjunto simbólico, que não o religioso católico. A Primeira República francesa surge em 1792 (a Revolução havia sido em 1789, mas a monarquia fora mantida por pouco menos de 3 anos dentro do período revolucionário), e um dos propósitos da propaganda oficial para mobilizar as energias populares em torno dos “mártires da liberdade” (no lugar dos “mártires do cristianismo”, que morreram pela religião, agora vangloria-se os que se sacrificaram pela liberdade da pátria), era utilizar o Panteão como lugar de memória e honra aos reconhecidos heróis da pátria francesa.

    Em 1806, Napoleão Bonaparte torna-se Imperador dos franceses, e preocupado em legitimar seu poder, sem os mesmos choques com a população que a Revolução havia provocado, decide que na parte principal do edifício se dará espaço ao culto católico e que as homenagens aos grandes homens ficariam em uma cripta no subsolo. Assim, Napoleão diminuía os conflitos entre religião e o culto nacional, integrando-os.

    Entre 1806 e 1815, foram inumados no Panteão quarenta servidores do Estado, funcionários civis, militares, e a partir desse momento também religiosos.

  • O Panteão hoje: além de lugar turístico de Paris e de recordação histórica, o Panteão serve para a pátria francesa como um mausoléu laico, sob uma política de pedagogia da memória do povo, para que jamais se esqueça de quem construiu a nação.

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    Túmulo de Victor Hugo (1802-1885), um dos mais importantes escritores franceses autor de Os Miseráveis e Notre-Dame de Paris, inumado no Panthéon em 1885.

    Ao longo do tempo, como a própria política, do século XIX ao XXI, houve um acentuado processo de democratização, significa que a homenagem aos “grandes homens” foi sendo ampliada, abarcando gradativamente maiores camadas da população francesa.

    A foto abaixo contempla essa ideia, pois observe que na cúpula há uma série de pessoas diferentes, demonstrando rostos diferentes, valorizando a noção de pluralidade, diversidade, democracia, dentro da integração nacional.

Panteão 6

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